Associação estimula produção e
comercialização de cabras. Venda em grupo gera cerca de 30% de lucro para os
produtores.
No Paraná, um programa estadual tem revelado o potencial do
estado para a criação de caprinos de corte da raça boer. As cabras surgiram como
uma alternativa para a diversificação das pequenas propriedades e, organizados
em associação, os criadores têm conseguido bons preços e aumentado a
renda.
No município de Virmond, a 360 quilômetros de Curitiba, fica a
Associação dos Caprinocultores de Virmond e região (Caprivir), uma das mais
importantes do estado. Segundo o vice-presidente da entidade, Vilson Buskevicz,
em 2012, os 22 associados da Caprivir comercializaram em torno de 3,5 mil
animais para o abate.
“O município não tinha nenhuma tradição em
caprinocultura. O investimento nesses animais se deu pelo grau de declividade
dos nossos terrenos. A nossa agricultura foi estudada e os produtores chegaram a
um consenso de ampliar essa atividade para aproveitar a questão de solo e do
relevo local”, explica Buskevicz.
Este é o caso da propriedade do criador
Éder Olenik, que tem cinco dos seus 28 hectares em situação de morro e pedra. Os
animais se adaptaram tão bem nessa área que foi possível aumentar o rebanho de
quatro para 60 matrizes. “Os animais gostam de uma área como essa. Para eles é
uma diversão, tem que escalar pedra. O animal se adapta bem”, conta.
O
produtor explica ainda que a área de morro onde ficam as cabras é uma área que
seria perdida: “Na pequena propriedade, o menor pedaço de terra que você
consegue aproveitar é a diferença que vai se manter na propriedade ou
não”.
Nas áreas mais planas, Éder aproveita para as lavouras de milho,
soja e feijão. Só que o mercado de caprinos anda tão bem na região, que ele
estuda intensificar os investimentos nesse setor. “A minha meta é chegar a 100
matrizes, em dois anos. Aí eu vou ter que perder área de milho e soja para
colocar cabra, mas vale à pena”, garante.
Para essa expansão, que vai
aumentar o rebanho de 60 para 100 matrizes, Éder pretende investir em um capim
de melhor qualidade que forneça mais proteína aos animais. “Eles conseguem se
alimentar bem, mas na época que implantei eu não sabia que o capim que uso hoje
é baixo de proteína para os caprinos. Por isso, eu tenho que complementar a
proteína no sal mineral deles. Se fosse implantar hoje, eu colocaria outra
variedade de capim, um tifton, capim pioneiro ou uma estrela africana”, explica
o criador.
Enquanto as matrizes são mantidas a pasto, os animais de
engorda, logo depois da desmama, seguem para um barracão, onde ficam até os seis
meses de idade, quando atingem cerca de 30 quilos.
Éder tem conseguido
vender o quilo do animal, para abate, por R$ 6 o quilo vivo. Quem faz a
comercialização é a Caprivir. Eles reúnem todos os sócios, selecionam um pouco
de animais de cada um, enchem o caminhão e mandam para o frigorífico. “Eu acho
que para o pequeno produtor esse jeito de comercialização é a única saída. Se
não fosse assim, a caprinocultura na nossa região não existiria”,
opina.
Por conta da venda em grupo, os criadores têm conseguido 30% de
lucro com a atividade. Dos 100 animais que nascem todo ano, Éder vende algo em
torno de 70 para o abate. O restante tem outro destino: uma parte das fêmeas é
destinada para o aumento do plantel e a outra parte é vendida para criadores
vizinhos, que estão iniciando ou aumentando o rebanho.
Isso acontece
porque o Paraná ainda está desenvolvendo seu rebanho de caprinos de qualidade e
o criador que entrou no setor há mais tempo serve como multiplicador de cabras
melhoradas.
O veterinário Cezar Pasqualin, um dos coordenadores do
programa no estado, trabalha para estruturar toda a cadeia produtiva, dentro e
fora da porteira: “A estratégia principal desse programa é não fazer a
distribuição pura e simples de animais. Temos sempre a preocupação de ter a
produção e a demanda caminhando juntos. Esse trabalho em conjunto faz diferença
também. Enquanto um criador está produzindo, o outro agente está em contato com
o mercado, para que isso ocorra em uma linha progressiva, de avanço desse
consumo de carnes”.
Para acelerar a seleção genética do rebanho, a
unidade do Instituto Agronômico do Paraná, localizado no município de Pato
Branco, entrou como parceira na reprodução de cabras com boas características.
Como o estado não tinha tradição na criação desses animais, o ponto de partida
para a estruturação da cadeia produtiva de caprinos foi montar um centro de
multiplicação e melhoramento genético.
De acordo com o veterinário André
da Silveira, um dos responsáveis por esse trabalho, que envolve cerca de 500
caprinos, a situação do Paraná é diferente da que acontece no nordeste
brasileiro, onde os animais têm uma procura e uma diversidade de alimentos bem
maior. “É uma situação de solo e pastagem diferenciada. O clima também é
diferente, por conta do frio. Para viabilizar o sistema aqui, pelo preço da
terra, a gente precisa produzir bem mais”, explica.
Aprimoramento
genético
Um dos trabalhos da pesquisa é encontrar a genética adequada
para a realidade das pequenas propriedades inseridas no programa. Para isso, os
animais vêm sendo apurados através de cruzamentos com bodes puros da raça boer,
uma das melhores do mundo no que se refere à produção de carne. “Essa genética
era inacessível para os pequenos e médios produtores. Então, o centro veio
exatamente para democratizar o acesso à essa genética. Com esse programa, o
rebanho de caprinos no Paraná passou de 100 mil a 170 mil animais”, afirma Cezar
Pasqualin.
A distribuição dos animais melhorados pelo Iapar é feita para
associações, cooperativas e prefeituras. A Caprivir é uma das beneficiadas e,
como são muitos os interessados, realiza um sorteio entre os
produtores.
A entidade também oferece a inseminação artificial para o
rebanho dos seus associados. Todo ano, esse trabalho é feito em pelo menos 200
matrizes. “Estamos tendo um bom resultado. Em torno de 85% de aproveitamento da
inseminação artificial”, relata o inseminador Daniel Pilarski, presidente da
Caprivir.
O controle da verminose é mais um fator que vem sendo
acompanhado de perto pelos técnicos da Caprivir. O exame chamado de OPG, que faz
a contagem de ovos do parasita, é feito de dois em dois meses em todas as
propriedades ligadas à associação. “O animal com parasita tem muita perda de
peso, que ocasiona doenças como anemia. Isso causa prejuízo para o produtor”,
explica Felipe Menegas, veterinário da Secretaria de Agricultura de
Virmond.
Ainda falta aos criadores de caprinos do Paraná volume de
produção e constância na entrega dos animais. Eles também precisam ter condições
de fazer o abate dentro do próprio estado. Atualmente, os cabritos são vendidos
vivos, principalmente para São Paulo.